sábado, 27 de março de 2010

O Leitor #02

"Quando os motores dos aviões param por avaria, isso não é o fim do voo. Os aviões não caem do céu como pedras. Os enormes aviões de passageiros, com vários motores, continham a deslizar durante meia hora ou três quartos de hora para depois se esmagarem ao tentarem aterrar. Os passageiros não notam nada. Voar com os motores parados não parece diferente de voar com eles a funcionar. É mais silencioso, mas só um pouco mais silencioso: mais barulhento que os motores é o vento que se quebra na fuselagem e nas asas. Num momento qualquer, ao olhar pela janela, a terra ou o mar estão ameaçadoramente próximos, a não ser que as hospedeiras e os hospedeiros tenham fechado as cortinas para pôr um filme a correr. Talvez os passageiros sintam que esse voo, uma pouco mais silencioso, é essencialmente agradável. 
Aquele Verão foi o voo planado do nosso amor. "

in "O Leitor", Bernhard Schlink

Já vi amores acabarem assim. Suavemente. A melhor forma de ver o fim de uma relação. Depois há o estrondo. Custa. Se ambos deixaram de voar e se deixaram apenas no conforto, à deriva. não é muito doloroso. E é por isso que não acredito no conforto puro e constante de um amor. E é por isso que preciso de lutar, de desafiar, de experimentar, de conhecer, de partilhar. De muitos momentos perfeitos e de muitos imperfeitos. Porque só assim faz sentido para mim. 

Decididamente, não gosto de viagens silenciosas.

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