terça-feira, 7 de junho de 2011

"Don't ask what your country can do for you,, ask what you can do for your country".

Aqui há uns anos escrevi uma coisa que muita gente considerou quase ofensiva: disse eu que José Sócrates era o melhor político português e que tinha conseguido, no primeiro mandato, fazer um trabalho decente tendo em conta a grave crise internacional em que a Europa - e Portugal - estava mergulhada.

Hoje, mantenho quase tudo. Continuo a achar que Sócrates é o mais profissional de todos os políticos, mas, agora, não acho que o primeiro mandato tenha sido assim tão bom. E por uma razão simples: os números que eram dados como verdadeiros na altura, afinal, foram rectificados, e o que pareciam ser contas do défice razoáveis foram, afinal, más. O problema maior foram mesmo as eleições de 2009. Para as ganhar, Sócrates inventou um cenário de retoma, que não existia, aumentou funcionários públicos, desdramatizou o que só tinha de ser dramatizado, e diabolizou Ferreira Leite, que deu a entender ser pior que Satanás, uma encarnação do mal que vinha aí para nos sugar até aos ossos, para nos levar o pouco que ainda conseguimos ter.

Bom, mas isso já lá vai. Até o Sócrates já lá vai. E vem aí Passos Coelho.
O homem ainda nem tomou posse e parece que já corre por aí um mail a atacar o currículo do senhor, e a dizer que nunca fez nada na vida, e que acabou o curso quase aos 40 anos e mais não sei o quê (só vi isto por alto, porque agora ando mais ocupado a passear). 

Sinceramente, acho que é nesta pequenez mental que esbarra o nosso crescimento enquanto povo. Gostamos sempre de esmiufrar o outro, de procurar o ponto fraco, de descobrir onde bater, encontrar o podre. E não estou obviamente a meter a imprensa neste saco - é esse, também, o papel do jornalista, procurar o que está errado, desconfiar das normalidades, procurar a fraude e denunciá-la. Agora, estou é a falar das pessoas que passam este mail de amigo em amigo, acrescentando mais um comentário malicioso, mais uma boca a apontar um defeito. 
Em lugar de nos preocuparmos, primeiro, com a nossa própria produtividade, com a necessidade de sermos melhores, mais cultos, mais competentes, mais eficientes, não, procuramos é mostrar que o outro - seja o primeiro ministro seja o gajo da cadeira ao lado, seja o chefe da contabilidade ("Ah, sabias que o Zé Francisco da Contabilidade é sobrinho da Maria José que é vereadora da câmara? Está explicado como é que ele chegou lá") - é muito pior, e tem defeitos, e não tem méritos.

Não sei se o Passos Coelho nunca trabalhou. Não posso dizer que não o conheço de lado nenhum, porque conheço. Não posso dizer que nunca falei com ele na vida, porque já falei, várias vezes. Não posso dizer que sou completamente desinteressado no que escrevo, porque sei que ele é um homem honesto e capaz, e sei-o pelo que disse antes, porque o conheço, porque já falei com ele várias vezes, porque sou amigo de algumas pessoas que o ajudaram a chegar onde chegou. 
Acho que toda a gente merece uma oportunidade. Foi por isso que fiquei contente com a vitória do PSD nestas eleições. Eu já votei PS, já votei PSD, já votei Bloco, já votei CDU. Desta vez não votei. Não votei porque não estava em Portugal no domingo das eleições. Mas acho que chegou a hora de Passos Coelho mostrar o que vale. E nós temos a obrigação de, antes de atirar pedras, ajudar, dar o nosso contributo para que o País saia de onde os anteriores governos o deixaram. E ainda antes de dizermos "este vai ser igual!", "são todos uns bandidos" ou "já dei para esse peditório" vamos tentar mais uma vez. Até porque só temos duas hipóteses: ou puxamos para um lado, ou puxamos para o outro; ou fazemos parte da solução, ou fazemos parte do problema.
E acho que a solução devemos ser nós, e não esperar que sejam os outros a procurá-la.
Anteontem voltei a estar em frente à frase que Kennedy um dia disse: "Don't ask what your country can do for you, ask what you can do for your country". Nunca foi tão actual.

Eu também recebi um email com o dito CV. E também me "passei" com o facto(?) do Dr. Passos Coelho ter acabado o curso com 37 anos, e desde então só ter assumido e acumulado cargos de Administrador. Também me cheirou muito a esturro. Como me cheirou a esturro muitas outras histórias e acções destes políticos que me fizeram votar naquele que me parecia apenas menos mau. E também critiquei (é intrínseco). Mas acho que neste artigo, O Arrumadinho está cheio de razão. Que a solução venha de nós. So, let´s go.

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