A persistência do tempo, Salvador Dali
Passei os últimos anos a queixar-me da falta de tempo. Porque não tinha tempo para estar com quem queria. Porque não tinha tempo para dormir. Porque que não tinha tempo para ver as minhas séries, para ler os livros que queria. Porque não tinha tempo para passear. Porque não tinha tempo para tudo o que gosto de fazer.
Nos últimos dois meses tenho tido muito tempo. Mesmo muito. O mestrado demorou muito tempo a começar (e agora que começou, vai muito devagarinho) e não tem sido simples encontrar um part-time na minha área, por isso o que não me falta é tempo. Tenho lido, tenho visto as séries todas, tenho dormido de mais, tenho passeado. E cheguei a uma conclusão que nunca pensei: ter muito tempo é uma seca. Ter muito tempo quando os outros não têm, ter muito tempo e pouco dinheiro, ter muito tempo e querer/sentir que devia estar a aplicar aquilo que andei a aprender nos últimos 18 anos não é definitivamente bom. Quero evoluir.
Eu não gosto disto. Estou a tentar encontrar uma solução para voltar a ter pouco tempo. Já tenho um plano A, um B e um C em acção… Alguma coisa há-de sair daqui. E se alguma das opções resultar (why not?) eu vou voltar a ter pouco tempo. E vou querer mais! Mais tempo para ler, para passear, para me divertir, para estar com quem gosto. Mas, se me ouvirem a queixar, por favor lembrem-me que eu não gosto de ter demasiado tempo livre. Sabem aquela história do “só valorizamos quando não temos”? Aqui é mais ou menos o oposto. Por isso, quando voltar a ter montes de coisas para fazer, como sempre tive, e andar cansada e, de vez em quando, me queixar, lembrem-me que eu gosto de acção.